segunda-feira, 14 de março de 2011

O mito McLuhan e sua discutível teoria

A mais inteligente observação sobre o confuso universo de Marshall MacLuhan, morto quarta-feira, foi um slide francês da década de 70 que mostrava Gutenberg no ato de dirigir uma vigorosa banana
a esse professor de literatura inglesa transformado, na falta de outros (0s nouveaux philophes não tinham aparecido ainda),em pseudocodificador e pensador da chamada Era Eletrônica. Zbigniew Brzernski tem uma outra espressão para designar essa época que ele denomina de Tecnetônica. Tanto o conferencista (foi assim que ele ganhou muito dinheiro)canadense quanto o falcão polonês produziram com o que escreveram e com o que disseram ou com o que aconselharam a inigualável e malcheirosa montanha de detrito subfilosófico e subteórico que resultam em conclusões equivocadas,
conceitos recheados de absurdos lógicos e, no caso de Zbig, em políticas catastróficas.
MacLuhan tinha sobre o polaco a vantagem de ser inteligente, mas como acontece frequentemente
com homens inteligentes mas deprovidos de um código de idéias,suas frases providas de algum senso e de alguma fagulha inovadora ficam submersas no mar de sargaço das planitudes que ele exonrava.
MacLuhan acreditava, por exemplo, que o meio empregado para transmitir uma mensagem alterava seu conteùdo e influía sobre o meio no qual essa mensagem era absorvida. É aqui que se centra uma das poucas coisas válidas que ele observou na chamada 'comunicação', algo que não existe como disciplina nem categoria de idéias, embora tenha servido para criar escolas de jornalismo no Brasil com a tarefa predeterminada de 'despolitizar' as redações dos jornais. Que essas escolas tenham produzido uma juventude talvez um pouco ardorosa demais, mas essencialmente generosa na sua formação política, algo com que os nossos planejadores não contavam.
O aparecimento de MacLuhan coincidiu mais ou menos com o surgimento do bola-de-sebo Herman Kahn, o 'futurólogo' que errou em quase tudo o que previu, como todos os futurólogos, mas que foi muito admirado e citado no Brasil, presa fácil dos contrabandos pseudo ideológicos e da afoiteza subintelectual de muitos de seus jornalistas.
Tanto MacLuhan como Kahn foram imediatamente apropriados pelos cantantes de sua época, vorazes
fourmets de novidades, sobretudo quando podem ser usadas em benefício da elite do Terceiro Mundo
submetido economicamente. Durante algusn anos não se podia abrir um jornal ou revosta,experiência aliás nãom isenta de riscos, sem deparar com alguma citação cretina de MacLuhan. A sua maneira confusa de expor seus argumentos, a natureza extremamente volátil de seu tema central ou de seus temas centrais e a própria incerteza que ele mesmo admitia alimentar em relação ao que exageradamente os seus mommentâneos apóstolos chamavam de 'idéias', fizeram com que qualquer som saido daquele peito bem alimnetado em almoços pagos(ele cobrava mil dólares para
discorrer durante um lunch) soassem como descobertas de raro valor científico.
Como Freud, outro explorado pelos subdesenvolvidos,MacLuhan, sem ter o insight daqule, disse
muita besteira, embora muita coisa do que ele tenha pensado valesse alguma reflexão.
O equívoco básico de McLuhan foi não ter ideologia alguma nem um sistema pelo qual pudesse analizar as transformações, que segundo ele próprio, seriam obrigatórias como advento da eletrônioca, por exemplo, no campo das transmissões de mensagens.
Não sendo um pensador político, fez-lhe falta essa visão globalizante do universo no qual ele vivia )_o que é catastrófico para quem analiza mecanismo de transmissão de idéias,fatos ou dados hitóricos. 'Aquela época, o Ocidente precisava de uma diversão para a enxurada ideológica
que vinha na crista da onda da guerra do Vietnã(embora seu melhor livro seja anterior). MacLuhan criou uma teorização banal sobre meios de transmitir, o que foi confundido com um pseudodicisplina chamada comunicação atpe Peter Arno, um cartunista americano.fez uma charge mostrando um senhor bem-posto que faz acompanhar a tentativa de seduzir a secretária com esse delicioso,embora lacônico: ''Lets communicate''.
Como aconece frequentemente com o próprio meio social em que MacLuhan vivia, com o seu ''consumo'', para empregar uma palavra bem ao gosto moderno, acabou por devorá-lo. Como Napoelão, mais conhecido pelas conquistas militares do que pelo que ele queria construir depois delas,MacLuhan acabou banalizado nas citações de apressados e na boca de jornalistas de quinta
classe,divulgadores e neutralizadores de idéias.
Acabou na piada da ''aldeia global'' um dos conceitos mais irrelevantemente concebidos porque falho na dimensão social, vesgo na economoa e reacionário politicamente. Desprovido de uma estrutura de pensamento político atento a um mundo que ele tentou codificar,nunca foi considerado pelos jornalistas de alguma seriedade ou pelos polemistas e pensadores de algum peso
(procurem ver,por exemolo,o que Dwight MacDonald disse dele),mas se não tivesse sido literalmente comido pelos roedores do porão talvez algo tivesse ficado de tudo o que ele pensou e escreveu.
Ele tinha certamente um grande conhecimento da cultura do Ocidente, mas não foi ele, como geralmente se pensa,quem identificou o artista como o melhor intérprete do presente,e o que mais
depressa antecipa o que está para vir.Muito antes dele os poetas já eram vistos como possuidores
dessa visão premonitória. Como ele tratou de temas ao alcance de todos e que não deixam de ser fascinantes,(a crise da cultura,a transmissão, a tv, a necessidade de ''pensar'' a nova cultura que surgiu na Idade Moderna),foi frequentemente confudido com as banalidades mais acessíveis aos comentaristas e cronistas de peso lve no Brasil a esse fenômeno se deve acrescentar as traduções porventura falhas de algumas coisas que disse.
Na sua confusa e descomprometida visão do mundo,que surgiu num momento de comprometimento generalizado, ele pretendeu contribuir estabelecendo um código independente das idéias.Terá sido esse seu erro fundamental. Se de um lado ele misturou o meio com o que o meio transmite,conceito
que na verdade tem seus atrativos mas que exige maior elaboração,ele acertou,por exemplo,na análise escatológica que fez da publicidade.
Mas no fundo, pelo uso que foi feito do que ele pôde pensar e dizer, a melhor resposta que lhe
possa ter sido dada é mesmo a banana severamente ''táctil'' de Gutemberg.

FSP Londres, 4. 1. 81

Cládio Abramo

Nenhum comentário:

Postar um comentário