sábado, 30 de abril de 2011

e agora josé

Isto é Roberto Requião (3º capítulo)

O texto abaixo foi publicado nesta quinta-feira no Facebook de Paloma Jorge Amado e reproduzido no blog de Cláudia Wasilewski
Odeio Prepotência

Paloma Jorge Amado*

Era 1998, estavamos em Paris, papai já bem doente participara da Feira do Livro de Paris e recebera o doutoramento na Sorbonne, o que o deixou muito feliz. De repente, uma imensa crise de saude se abateu sobre ele, foram muitas noites sem dormir, só mamãe e eu com ele. Uma pequena melhora e fomos tomar o aviao da Varig (que saudades) para Salvador.

Mamãe juntou tudo que mais gostavam no apartamento onde não mais voltaria e colocou em malas. Empurrando a cadeira de rodas de papai, ela o levou para uma sala reservada. E eu, com dois carrinhos, somando mais de 10 malas, entrava na fila da primeira classe. Em seguida chegou um casal que eu logo reconheci, era um politico do Sul (nao lembro se na época era senador ou governador, já foi tantas vezes os dois, que fica dificil lembrar). A mulher parecia uma arvore de Natal, cheia de saltos, cordões de ouros e berloques (Calá, com sua graça, diria: o jegue da festa do Bonfim). É claro que eu estava de jeans e tênis, absolutamente exausta. De repente, a senhora bate no meu ombro e diz: Moça, esta fila é da primeira classe, a de turistas é aquela ao fundo. Me armei de paciência e respondi: Sim, senhora, eu sei. Queria ter dito que eu pagara minha passagem enquanto a dela o povo pagara, mas nao disse. Ficou por isso. De repente, o senhor disse à mulher, bem alto para que eu escutasse: até parece que vai de mudança, como os retirantes nordestinos. Eu só sorri. Terminei o check in e fui encontrar meus pais.

Pouco depois bateram à porta, era o casal querendo cumprimentar o escritor. Não mandei a putaquepariu, apesar de desejar fazê-lo, educadamente disse não. Hoje, quando vi na tv o Senador dizendo que foi agredido por um repórter, por isso tomou seu gravador, apagou seu chip, eteceteraetal, fiquei muito retada, me deu uma crise de mariasampaismo e resolvi contar este triste episódio pelo qual passei. Só eu e o gerente da Varig fomos testemunhas deste episódio, meus pais nunca souberam de nada…

* Paloma Jorge Amado é psicóloga.
Define a sua preferência política desta forma. “Sou livre pensadora. Odeio tudo que é contra o povo, reacionário, retrógrado, preconceituoso. Se tivesse que escolher uma ala, escolheria a das Baianas.”

Tags: Jorge Amado, Paloma Jorge Amado, Paris, primeira classe, Roberto Requião, Salvador, Varig

quarta-feira, 27 de abril de 2011

A força latente _ Mara Kramer

A força latente - por Mara Kramer !! (@MarKramer)
No primeiro domingo de setembro de 2010 o Brique da Redenção, feira dominical de arte, artesanato e antiguidades tradicional de Porto Alegre estava repleta de gente. Em período eleitoral o número de pessoas aumenta, pois partidos e coligações montam suas barracas e trazem seus filiados e gente paga para fazer campanha. O Brique incorpora historicamente, junto a sua função principal, um componente político. Fotos de Dilma ao lado de Lula e Tarso se vêem de longe, são grandes e vistosas. Surpreendentemente, não se vê fotos de Serra, muito menos com Yeda, candidata à reeleição para governadora, e também do PSDB. Ninguém faz campanha para Serra, ele entra, quando entra, de lambuja na campanha de outros correligionários. Nesta mesma época visitei mais três ou quatro cidades do interior do Estado. Em nenhuma vi sinais de campanha para Serra. PDT, PMDB e PT monopolizavam a paisagem das cidades, do PSDB nem sombra. Mais tarde li no blog do jornalista Políbio Braga, sempre muito bem informado, que, basicamente, não houve campanha para Serra no primeiro turno no RS, confirmando minha percepção daquela realidade.


A campanha de Serra para presidente foi problemática em vários sentidos. Sobre alguns nós já conversamos, como a escolha da estratégia de marketing, a ausência de um discurso firme e consistente de oposição, a falta de unidade no partido enfatizada em Minas onde Aécio fez corpo mole na luta por Serra no primeiro turno ganhando força o voto Dilmásia (Dilma + Anastásia), o isolamento de Yeda pelo partido no RS, etc. Este quadro constituiu o fechamento de oito anos de ausência de oposição frente ao governo Lula. Neste período os partidos opositores tiveram alguns momentos brilhantes como a derrota do governo na renovação da CPMF, mas tais momentos foram raros. A oposição foi apática, e como tal, conivente com os abusos de poder e incompetência do lulapetismo.


Do outro lado, em compensação, tudo era exuberante. Dilma sai como candidata da situação, não oficial, em meados de 2009. Submete-se a uma operação de estética facial, acompanha Lula em eventos públicos, Lula fala nela sem querer querendo sempre que pode, tem-se a idéia de que a campanha começou para o PT antes do tempo permitido. Nas negociações regionais Lula prioriza o apoio à candidatura ao Planalto. A campanha para a situação era nada mais que a extensão de uma prática mantida durante todo o governo, pois o ex-presidente jamais desceu do palanque. Começa a campanha pra valer e o dinheiro sobra para os petistas, a máquina pública esta a serviço da candidata do governo, o presidente dentro e fora de expediente faz campanha explicita para sua pupila. Diz que fará por Dilma mais do que faria por si mesmo nesta eleição. Procedimentos ilegais abundaram no lado da situação, mas a justiça não teve coragem de punições consistentes e o circo seguia. Tivemos dossiês, agressões, despotismo, que foram engolidos pela onipresença de Lula, pela negligência da oposição e da justiça. Segundo o discurso governista o país era outro após os oito anos de lulapetismo, como nunca antes havia sido, tratava-se de um desabrochar, funcionava com perfeição, a economia em alta, o bolsa família ampliava-se, o povo consumia e regozijava-se. Popularidade inédita do presidente nas pesquisas. Situação dava como certa vitória no primeiro turno, oposição nunca acreditou que venceria.


Situação e oposição foram surpreendidas logo nos resultados das urnas no primeiro turno - haveria um segundo turno. O PT sente o baque, o prestigio de Lula é afetado, o partido cambaleia nos primeiros dias, para reagir depois. O PSDB reorganiza sua logística regional, rearticula-se politicamente, Aécio adere, de fato, à campanha, os tempos na TV se igualam, e o resultado do segundo turno é novamente surpreendente. Ganhou Dilma, mas a diferença não é a que o PT e Lula esperavam. Dilma recebe 55.752.529 votos e Serra 43.711.388 votos.


Acima descrevi um panorama conhecido, mas o fiz visando identificar novas interpretações sobre estes acontecimentos. Ao estabelecer um paralelo entre as atuações da situação e da oposição durante os últimos oito anos, incluindo as campanhas presidenciais, destaca-se a superexposição da primeira frente à omissão da segunda, e neste caso a proximidade dos resultados eleitorais é ainda mais instigante. Como uma oposição desestruturada, que enfrenta eternas e profundas disputas internas, sem trabalho de base, incapaz de assumir seu papel no jogo democrático alcança resultados semelhantes ao do carismático e mediático Lula que vence apenas no segundo turno? Se é assim não posso deixar de pensar no que teria ocorrido se a oposição agisse conforme deve: fiscalizar, criticar o governo e propor alternativas sempre visando a melhoria da qualidade de vida do povo. Provavelmente, teria ganho as eleições.


Pode-se depreender daí que a derrota da oposição tem muito mais a ver com sua própria debilidade, do que com a famigerada invencibilidade do PT de Lula. Parece que a popularidade, a aprovação e o carisma do ex-presidente não têm a dimensão que muitos lhe atribuíram. Talvez sejam apenas mais uma construção mediática como muitas outras criadas e difundidas em seu governo e que hoje vemos desmoronar uma atrás de outra. É possível que sua invencibilidade eleitoral tenha sido apenas uma estratégia de marketing exitosa, pois manteve seus adversários amedrontados frente a ela, mesmo que a realidade oferecesse uma infinidade de argumentos para o contra-ataque. Neste caso, os eleitores foram muito mais sagazes que os próprios políticos e conseguiram ver atrás da cortina de ilusões apresentada pelo discurso governista. Não quero dizer com isto que Lula não seja carismático, apenas ressalto que esta característica unida a um contexto dito como favorável não foi suficiente para obter o voto de grande parcela da população brasileira.


Esta visão demonstra que houve no campo político brasileiro nos últimos oito anos uma super valorização da fortaleça política do PT, e paralelamente um processo de desmontagem da oposição, caracterizado pela marginalização política de FHC e as obras de seu governo. O engrandecimento do PT e a desvalia da oposição, sobretudo do PSDB, pois governo anterior e maior partido da oposição são ações que fazem parte da engrenagem armada pelo PT visando o desmantelamento do sistema democrático a partir do enfraquecimento do confronto das forças opositoras exigidas pelo modelo, e do enaltecimento do partido único, símbolo do autoritarismo.


Observa-se, a partir de uma leitura um pouco mais atenta, que os partidos de oposição deixaram-se intimidar pelo novo jogo político no cenário nacional resultante da chegada ao governo do PT, foram capturados pelas artimanhas petistas que objetivam o esvaziamento da oposição como força política, e a imposição do PT como partido hegemônico. Penso que os números da última eleição, tanto os que se referem à candidatura para presidência, quanto a votação para governadores, demonstram a capacidade de discernimento do povo na leitura da realidade não se deixando enganar pela postura imoral, anti-ética e anti-democrática do PT, assim como por seu discurso desonesto e desrespeitoso para com a população. Neste sentido, a política da oposição deve ganhar autonomia, estrutura e caráter próprio, acreditar na sua capacidade e eficiência, deixando de ser balizada pelo PT, pois o partido governista tem “pés de barro”. O povo brasileiro ofereceu sinais evidentes sobre seu desejo de uma oposição forte e profissional. Esperamos que nossos políticos não nos desapontem!






A força latente - por Mara Kramer !! (@MarKramer)

às 12:52

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A Globo tirou o São Francisco de Alagoas

Roberto Vilanova

Na edição do sábado, 23, do Jornal Hoje da Rede Globo, o canyon do rio São
Francisco fica em Sergipe.
Para a Globo o canyon não separa os Estados de Alagoas e Sergipe, conforme a
geografia ensina e natureza mostra.
Mas, não vamos culpar a Globo nem os sergipanos. A culpa é nossa mesmo e a
discriminação é apenas mais uma conseqüência do descaso dos nossos governantes.
Não digo que agiram por má fé, mas é certo que eles não trabalharam bem pelo
Estado. Posso dizer isso pelo seguinte:
No governo Guilherme Palmeira (1978/82) o saudoso Manduca, diretor da Empresa
Alagoana de Turismo, lançou o projeto “Interiorização do Turismo”, cujo objetivo
era divulgar as potencialidades turísticas do Interior alagoano.
Piranhas, Água Branca e Mata Grande, as três cidades no alto Sertão do Estado,
detêm um acervo arquitetônico e histórico ainda hoje inexplorado.
A idéia do Manduca era revelar essa potencialidade ao País e trabalhando em
conjunto com a então Subsecretaria de Comunicação Social, cujo subsecretário era
o jornalista José Osmando, foi produzida uma revista (Alagoas Agora) de
distribuição nacional.
O projeto do Manduca foi a proposta mais inteligente até então no setor de
turismo, mas não teve prosseguimento no governo seguinte porque o governador
(1983), ao vetar o projeto, disse que o turista vinha a Alagoas atraído pelo
litoral e “quem queria visitar prédios velhos ia para Minas Gerais" (sic).
Ledo engano.
O governador sergipano, João Alves, que mantinha negócios em Alagoas, pegou a
idéia do Manduca e implantou em Sergipe.
O governador João Alves ajudou a construir o Hotel Xingó, criou a infraestrutura
turística no semi-árido sergipano e expandiu os negócios em Canindé do São
Francisco.
Imagine que, antes da usina de Xingó, a cidade de Canindé do São Francisco
possuía apenas 120 casas à beira do rio. Não tinha sequer igreja – a única
capela ficava nas terras da família Brito.
Canindé não tinha farmácia nem banco – sequer posto dos Correios. Hoje, Canindé
foi reconstruída no topo da serra e possui quatro agências bancárias – duas
oficiais e duas privadas.
O fluxo turístico atingiu um número jamais imaginado.
E por tudo isso, especialmente porque Sergipe teve um governador competente e
visionário, vale fica com o cayon para ele.
E ainda que todo rio possua duas margens, Sergipe merece ficar com ambas por ter
provado que o turista não vive apenas do litoral.

Daí partimos para alguns questionamentos :

- Será que os gestores de Sergipe são mais compententes do que os de Alagoas ? Ou será que Alagoas não tem compromisso com rio São Francisco já entregou os pontos há muito tempo e esqueceu de avisar a todos ?

- Sergipe incorporou há muito tempo o Canyon do São Francisco ao turismo e a sua geografia, e Alagoas mesmo geograficamente falando já incorporou o São Francisco em seu planejamento e principalmente no seu leque de ações ?

- O turismo no São Francisco por parte de Alagoas é realidade ou "conversa para boi dormir" ? Cadê as ações ? Cadê os recursos de mais de 4 anos prometido, da AECID que nunca chegam ?Cadê o fortalecimento do APL por parte do Governo ? Cadê nossa divulgação prometida igual ao nosso rico e famoso litoral norte ?Concordo com o Bob Vilanova talvez a interiorização do Turismo em Alagoas talvez seja a solução para encurtar a distância não somente geográfica mas institucional.

-Aonde ficamos nas feiras de turismo ? Aonde ? Apesar de fecharmos negócios e de ser o diferencial ficamos sempre em segundo plano.

A Globo prestou um grande serviço a Alagoas e em especial ao turismo, mostrou a realidade que muito tempo nós do São Francisco tentamos colocarmos que a falta de divulgação fez com Sergipe se apoderasse do que é nosso, como diria Goebbels - ministro da propaganda nazista- "UMA MENTIRA CONTADA VÁRIAS VEZES VIRA UMA GRANDE VERDADE"

Precisamos urgentemente tomarmos alguma atitude para mudar esta situação,e deixar os dirscurssos evasivos e sem nenhuma praticidade de lado.Ou terei que aceitar que realmente que Sergipe ganhou a guerra para Alagoas sem dar um tiro sequer, somente sendo mais esperto e compentente. QUE VIVA ALAGOAS ! QUE VIVA SERGIPE ! QUE VIVA PRINCIPALMENTE NOSSO QUERIDO RIO SÃO FRANCISCO !

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Vergonha

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Vergonha
Mais uma vez eliminado da Copa do Brasil. Mais uma vez contra um time catarinense. Mais uma vez, com uma atuação vergonhosa da arbitragem. Quatro anos após a auxiliar Ana Paula Oliveira ter tirado o alvinegro da competição, o mineiro Ricardo Marques Ribeiro repetiu o feito e continua protagonizando situações polêmicas nos gramados. Vejam a transcrição a seguir de reportagem de 2009:
“Ricardo Marques Ribeiro se envolveu em algumas polêmicas nos últimos anos. Logo após a primeira rodada do Brasileiro do ano passado, o homem de preto foi suspenso pela Comissão de Arbitragem, por falta de ação disciplinar na partida entre Palmeiras e Coritiba. Ainda em 2008, foi a vez do Figueirense reclamar do árbitro, depois da partida contra o Fluminense, quando o time carioca venceu a partida com um gol aos 40 minutos da etapa final. Washington, então no Flu, teria desviado a bola com a mão, tirando do goleiro Wilson, e deixando Thiago Neves livre para marcar.
No início deste ano, o presidente do Atlético-MG, Alexandre Kalil, divulgou uma nota oficial com acusações contra Marques Ribeiro. O dirigente atleticano acusou o árbitro de ser funcionário do vice-presidente do Conselho Deliberativo do Cruzeiro e pediu para que ele não apitasse mais jogos do Galo.”
É uma vergonha que árbitros como esse continuem trabalhando e trazendo prejuízo aos clubes e profissionais que lutam diariamente por dias melhores. Quem vai pagar a conta de manter o time 1 mês sem jogos? Provavelmente, o Paul McCartney...
O soprador de apito cansou de inverter faltas, laterais e escanteios durante o jogo e, pra fechar com chave de ouro, inventou o pênalti da classificação avaiana. Que esse sujeito tenha o mesmo destino da bandeirinha: ganhar a vida fora das quatro linhas.
Ok, não temos um timaço. Mas hoje jogamos certo. Jogamos pra ganhar, apesar de todas as dificuldades. Boas atuações dos novatos Lucas Zen, Cortês e Cidinho. Talvez tenha faltado manter-se no ataque após o 1 a 0. Mais um gol e a vaga estava garantida. Mesmo assim, o time suportava bem. Mas foi...
Hora de arrumar a casa. Dispensar alguns, trazer jogadores que possam fazer a diferença e treinar. Treinar muito. Mudar de vez a meneira de jogar. Mas não dá pra perder tempo. Tem que fechar logo o grupo pra ter tempo de preparar. Não adianta contratar em cima do início do Brasileirão. Mexam-se!

Daniel Faria

quinta-feira, 21 de abril de 2011

A trincheira de Jean Wyllys

Política

A trincheira de Jean Wyllys
Leandro Fortes

20 de abril de 2011 às 18:10h


Na Câmara dos Deputados, Jean Wyllys, 36 anos, baiano de Alagoinhas, tornou-se a cara da luta contra a homofobia no Brasil, justamente num momento em que se discute até a criminalização do bullying. Por Leandro Fortes. Foto: Agência Câmara
Jean Wyllys de Matos Santos é um sujeito tranquilo, bem humorado, que defende idéias sem alterar a voz, as mais complexas, as mais simples, baiano, enfim. Ri, como todos os baianos, da pecha da preguiça, como assim nomeiam os sulistas um sentimento que lhes é desconhecido: a ausência de angústia. Homossexual assumido, Jean cerra fileiras no pequeno e combativo PSOL, a única trincheira radical efetivamente ativa na política brasileira. E é justamente no Congresso Nacional que o deputado Jean Wyllys, eleito pelos cidadãos fluminenses, tem se movimentado numa briga dura de direitos civis, a luta contra a homofobia.

Cerca de 200 homossexuais são assassinados no Brasil, anualmente, exclusivamente por serem gays. Entre eles, muitos adolescentes.

Mas o Brasil tem pavor de discutir esse assunto, inclusive no Congresso, onde o discurso machista une sindicalistas a ruralistas, em maior ou menor grau, mas, sobretudo, tem como aliado as bancadas religiosas, unidas em uma cruzada evangélica. Os neopentecostais, como se sabe, acreditam na cura da homossexualidade, uma espécie de praga do demônio capaz de ser extirpada como a um tumor maligno. O mais incrível, no entanto, não é o medievalismo dessa posição, mas o fato de ela conseguir interditar no Parlamento não só a discussão sobre a criminalização da homofobia, mas também o direito ao aborto e a legalização das drogas. Em nome de uma religiosidade tacanha, condenam à morte milhares de brasileiros pobres e, de quebra, mobilizam em torno de si e de suas lideranças o que há de mais lamentável no esgoto da política nacional.

Jean Wyllys se nega a ser refém dessa gente e, por isso mesmo, é odiado por ela. Contra ele, costumam lembrar-lhe a participação no Big Brother Brasil, o inefável programa de massa da TV Globo, onde a debilidade humana, sobretudo a de caráter intelectual, é vendida como entretenimento. Jean venceu uma das edições do BBB, onde foi aceito por ser um homossexual discreto, credenciado, portanto, para plantar a polêmica, mas não de forma a torná-la um escândalo. Dono de um discurso política bem articulado, militante da causa gay e intelectualmente superior a seus pares, não só venceu o programa como ganhou visibilidade nacional. De repórter da Tribuna da Bahia, em Salvador, virou redator do programa Mais Você, de Ana Maria Braga, mas logo percebeu que isso não era, exatamente, uma elevação de status profissional.

Na Câmara dos Deputados, Jean Wyllys, 36 anos, baiano de Alagoinhas, tornou-se a cara da luta contra a homofobia no Brasil, justamente num momento em que se discute até a criminalização do bullying. Como se, nas escolas brasileiras, não fossem os jovens homossexuais o alvo principal das piores e mais violentas “brincadeiras” perpetradas por aprendizes de brucutus alegremente estimulados pelo senso comum. Esses mesmos brucutus que, hoje, ligam para o gabinete do deputado do PSOL para ameaçá-lo de morte.

Abaixo, a íntegra de uma carta escrita por Jean ao Jornal do Brasil, por quem foi acusado, por um colunista do JB Wiki (seja lá o que isso signifique), de “censurar cristãos”. O texto é uma pequena aula de civilidade e História. Vale à pena lê-lo:


Em primeiro lugar, quero lembrar que nós vivemos em um Estado Democrático de Direito e laico. Para quem não sabe o que isso quer dizer, “Estado laico”, esclareço: O Estado, além de separado da Igreja (de qualquer igreja), não tem paixão religiosa, não se pauta nem deve se pautar por dogmas religiosos nem por interpretações fundamentalistas de textos religiosos (quaisquer textos religiosos). Num Estado Laico e Democrático de Direito, a lei maior é a Constituição Federal (e não a Bíblia, ou o Corão, ou a Torá).


Logo, eu, como representante eleito deste Estado Laico e Democrático de Direito, não me pauto pelo que diz A Carta de Paulo aos Romanos, mas sim pela Carta Magna, ou seja, pelo que está na Constituição Federal. E esta deixa claro, já no Artigo 1º, que um dos fundamentos da República Federativa do Brasil é a dignidade da pessoa humana e em seu artigo 3º coloca como objetivos fundamentais a construção de uma sociedade livre, justa e solidária e a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. A república Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos princípios da prevalência dos Direitos Humanos e repúdio ao terrorismo e ao racismo.


Sendo a defesa da Dignidade Humana um princípio soberano da Constituição Federal e norte de todo ordenamento jurídico Brasileiro, ela deve ser tutelada pelo Estado e servir de limite à liberdade de expressão. Ou seja, o limite da liberdade de expressão de quem quer que seja é a dignidade da pessoa humana do outro. O que fanáticos e fundamentalistas religiosos mais têm feito nos últimos anos é violar a dignidade humana de homossexuais.


Seus discursos de ódio têm servido de pano de fundo para brutais assassinatos de homossexuais, numa proporção assustadora de 200 por ano, segundo dados levantados pelo Grupo Gay da Bahia e da Anistia Internacional. Incitar o ódio contra os homossexuais faz, do incitador, um cúmplice dos brutais assassinatos de gays e lésbicas, como o que ocorreu recentemente em Goiânia, em que a adolescente Adriele Camacho de Almeida, 16 anos, que, segundo a mídia, foi brutalmente assassinada por parentes de sua namorada pelo fato de ser lésbica. Ou como o que ocorreu no Rio de Janeiro, em que o adolescente Alexandre Ivo, que foi enforcado, torturado e morto aos 14 anos por ser afeminado.


O PLC 122 , apesar de toda campanha para deturpá-lo junto à opinião pública, é um projeto que busca assegurar para os homossexuais os direitos à dignidade humana e à vida. O PLC 122 não atenta contra a liberdade de expressão de quem quer que seja, apenas assegura a dignidade da pessoa humana de homossexuais, o que necessariamente põe limite aos abusos de liberdade de expressão que fanáticos e fundamentalistas vêm praticando em sua cruzada contra LGBTs.


Assim como o trecho da Carta de Paulo aos Romanos que diz que o “homossexualismo é uma aberração” [sic] são os trechos da Bíblia em apologia à escravidão e à venda de pessoas (Levítico 25:44-46 – “E, quanto a teu escravo ou a tua escrava que tiveres, serão das gentes que estão ao redor de vós; deles comprareis escravos e escravas…”), e apedrejamento de mulheres adúlteras (Levítico 20:27 – “O homem ou mulher que consultar os mortos ou for feiticeiro, certamente será morto. Serão apedrejados, e o seu sangue será sobre eles…”) e violência em geral (Deuteronômio 20:13:14 – “E o SENHOR, teu Deus, a dará na tua mão; e todo varão que houver nela passarás ao fio da espada, salvo as mulheres, e as crianças, e os animais; e tudo o que houver na cidade, todo o seu despojo, tomarás para ti; e comerás o despojo dos teus inimigos, que te deu o SENHOR, teu Deus…”).


A leitura da Bíblia deve ensejar uma religiosidade sadia e tolerante, livre de fundamentalismos. Ou seja, se não pratica a escravidão e o assassinato de adúlteras como recomenda a Bíblia, então não tem por que perseguir e ofender os homossexuais só por que há nela um trecho que os fundamentalistas interpretam como aval para sua homofobia odiosa.


Não declarei guerra aos cristãos. Declarei meu amor à vida dos injustiçados e oprimidos e ao outro. Se essa postura é interpretada como declaração de guerra aos cristãos, eu já não sei mais o que é o cristianismo. O cristianismo no qual fui formado – e do qual minha mãe, irmãos e muitos amigos fazem parte – valoriza a vida humana, prega o respeito aos diferentes e se dedica à proteção dos fracos e oprimidos. “Eu vim para que TODOS tenham vida; que TODOS tenham vida plenamente”, disse Jesus de Nazaré.


Não, eu não persigo cristãos. Essa é a injúria mais odiosa que se pode fazer em relação à minha atuação parlamentar. Mas os fundamentalistas e fanáticos cristãos vêm perseguindo sistematicamente os adeptos da Umbanda e do Candomblé, inclusive com invasões de terreiros e violências físicas contra lalorixás e babalorixás como denunciaram várias matérias de jornais: é o caso do ataque, por quatro integrantes de uma igreja evangélica, a um centro de Umbanda no Catete, no Rio de Janeiro; ou o de Bernadete Souza Ferreira dos Santos, Ialorixá e líder comunitária, que foi alvo de tortura, em Ilhéus, ao ser arrastada pelo cabelo e colocada em cima de um formigueiro por policiais evangélicos que pretendiam “exorcizá-la” do “demônio”.


O que se tem a dizer? Ou será que a liberdade de crença é um direito só dos cristãos?


Talvez não se saiba, mas quem garantiu, na Constituição Federal, o direito à liberdade de crença foi um ateu Obá de Xangô do Ilê Axé Opô Aforjá, Jorge Amado. Entretanto, fundamentalistas cristãos querem fazer uso dessa liberdade para perseguir religiões minoritárias e ateus.


Repito: eu não declarei guerra aos cristãos. Coloco-me contra o fanatismo e o fundamentalismo religioso – fanatismo que está presente inclusive na carta deixada pelo assassino das 13 crianças em Realengo, no Rio de Janeiro.


Reitero que não vou deixar que inimigos do Estado Democrático de Direito tente destruir minha imagem com injúrias como as que fazem parte da matéria enviada para o Jornal do Brasil. Trata-se de uma ação orquestrada para me impedir de contribuir para uma sociedade justa e solidária. Reitero que injúria e difamação são crimes previstos no Código Penal. Eu declaro amor à vida, ao bem de todos sem preconceito de cor, raça, sexo, idade e quaisquer outras formas de preconceito. Essa é a minha missão.


Jean Wyllys (Deputado Federal pelo PSOL Rio de Janeiro)


Leandro Fortes
Leandro Fortes é jornalista, professor e escritor, autor dos livros Jornalismo Investigativo, Cayman: o dossiê do medo e Fragmentos da Grande Guerra, entre outros. Mantém um blog chamado Brasília eu Vi. http://brasiliaeuvi.

Veja só Rede Globo

Ofício Conjunto Intermunicipal

Sertão Alagoano, 18 de abril de 2011

Ilmo. Sr.

Renato Azevedo

Coordenador de Produção da Rede Globo de Televisão

Matrícula - 27.249

Produção - Cordel Encantado

Est. dos Bandeirantes, 6.700 – Curicica – Rio de Janeiro

MP 1 - Mod. Amarelo, 2° piso lado A



Assunto: Novela Cordel Encantado



Ilustríssimo Senhor,

Vimos, por intermédio deste, expor e solicitar o que adiante se depreende:

Inicialmente, cumpre-nos agradecer pela escolha de nossa região para ambientar a nova novela das 18:00 h, Cordel Encantado, desta conceituada emissora de televisão.

As negociações para que a Região de Xingó, mais precisamente nos municípios alagoanos de Piranhas, Olho d’Água do Casado e Delmiro Gouveia, começaram ainda no mês de outubro de 2010, quando Vossa Senhoria na condição de Coordenador de Produção da citada novela entrou em contato com as municipalidades envolvidas através da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Piranhas, à qual coube o papel de articuladora com os demais municípios.

De imediato, não nos furtamos em apoiar tão grandioso projeto que era de servir de cenário para os primeiros capítulos da novela Cordel Encantado, até porque o universo do Cangaço presente na trama escrita por Duca Rachid e Thelma Guedes continua vivo em nossa região com a saga do maior de todos os cangaceiros, o nosso eterno Lampião.

Aliado a história do Cangaço, a paisagem do Canyon do Rio São Francisco localizado no Estado de Alagoas, da caatinga preservada e da participação da canoa de tolda “Piranhas” – uma das 03 existentes no mundo inteiro - tivemos o engajamento de forma responsável e compromissada com o projeto “Cordel Encantado”

Diante do exposto até o momento, não entendemos por quais motivos a Rede Globo tem anunciado em todos meios de comunicação que a novela Cordel Encantado foi somente gravada no Estado de Sergipe, deixando de lado o Estado de Alagoas.

Vale ressaltar que os municípios de Piranhas, Olho d’Água do Casado e Delmiro Gouveia contribuíram com toda logística necessária nos 03 dias de gravações da citada novela. Considerando que foram apenas 04 dias no total, temos que o Estado de Alagoas foi o principal cenário nos primeiros capítulos de Cordel Encantado.

Atualmente, somente a cidade de Piranhas recebe cerca de 130 mil turistas/ano e o Canyon do São Francisco localizado entre as cidades de Olho d’ Água do Casado e Delmiro Gouveia chega a receber 200 mil turistas/ano, assim, com a correta divulgação dos cenários da novela haveria um aumento desses números, contribuindo de forma substanciosa para geração de emprego, trabalho e renda, além de elevar a auto-estima do nosso povo.

Solicitamos a Vossa Senhoria que interceda junto a assessoria de imprensa no sentido de rever a divulgação da novela Cordel Encantado e que finalmente seja feita justiça para com as cidades de Piranhas, Olho d’Água do Casado e Delmiro Gouveia e com o Estado de Alagoas, que tanto contribuíram para a realização da nova trama das 18:00 horas da Rede Globo.

A título de sugestão, gostaríamos que Vossa Senhoria, juntamente com a assessoria de imprensa, pudesse vislumbrar a possibilidade de gravação de algum programa ou reportagem da Rede Globo onde a pauta contemplasse os cenários da novela Cordel Encantado no Estado de Alagoas e em especial nas cidades supracitadas.

Sem mais para o presente momento, aproveitamos o ensejo para externar ao Nobre Diretor os mais sinceros votos de respeito e consideração, ao tempo que aguardamos uma pronta resposta a nossa missiva.



Mellina Torres Freitas

Prefeita Municipal de Piranhas







Luiz Carlos Costa

Prefeito Municipal de Delmiro Gouveia







José Gualberto Pereira

Prefeito Municipal de Olho D’Água do Casado

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Vamos Debater O Artigo Do FHC

O Papel da Oposição
Em artigo, FHC recorda que “cabe às oposições, como é óbvio e quase ridículo de escrever, se oporem ao governo”

Fernando Henrique Cardoso /Foto: Paula Sholl

Há muitos anos, na década de 1970, escrevi um artigo com o título acima no jornal Opinião, que pertencia à chamada imprensa “nanica”, mas era influente. Referia-me ao papel do MDB e das oposições não institucionais. Na época, me parecia ser necessário reforçar a frente única antiautoritária e eu conclamava as esquerdas não armadas, sobretudo as universitárias, a se unirem com um objetivo claro: apoiar a luta do MDB no Congresso e mobilizar a sociedade pela democracia.

Só dez anos depois a sociedade passou a atuar mais diretamente em favor dos objetivos pregados pela oposição, aos quais se somaram também palavras de ordem econômicas, como o fim do “arrocho” salarial.

No entretempo, vivia-se no embalo do crescimento econômico e da aceitação popular dos generais presidentes, sendo que o mais criticado pelas oposições, em função do aumento de práticas repressivas, o general Médici, foi o mais popular: 75% de aprovação.

Não obstante, não desanimávamos. Graças à persistência de algumas vozes, como a de Ulisses Guimarães, às inquietações sociais manifestadas pelas greves do final da década e ao aproveitamento pelos opositores de toda brecha que os atropelos do exercício do governo, ou as dificuldades da economia proporcionaram (como as crises do petróleo, o aumento da dívida externa e a inflação), as oposições não calavam. Em 1974, o MDB até alcançou expressiva vitória eleitoral em pleno regime autoritário.

Por que escrevo isso novamente, 35 anos depois?

Para recordar que cabe às oposições, como é óbvio e quase ridículo de escrever, se oporem ao governo. Mas para tal precisam afirmar posições, pois, se não falam em nome de alguma causa, alguma política e alguns valores, as vozes se perdem no burburinho das maledicências diárias sem chegar aos ouvidos do povo. Todas as vozes se confundem e não faltará quem diga – pois dizem mesmo sem ser certo – que todos, governo e oposição, são farinhas do mesmo saco, no fundo “políticos”. E o que se pode esperar dos políticos, pensa o povo, senão a busca de vantagens pessoais, quando não clientelismo e corrupção?

Diante do autoritarismo era mais fácil fincar estacas em um terreno político e alvejar o outro lado. Na situação presente, as dificuldades são maiores. Isso graças à convergência entre dois processos não totalmente independentes: o “triunfo do capitalismo” entre nós (sob sua forma global, diga-se) e a adesão progressiva – no começo envergonhada e por fim mais deslavada – do petismo lulista à nova ordem e a suas ideologias.

Se a estes processos somarmos o efeito dissolvente que o carisma de Lula produziu nas instituições, as oposições têm de se situar politicamente em um quadro complexo.

Complexidade crescente a partir dos primeiros passos do governo Dilma que, com estilo até agora contrastante com o do antecessor, pode envolver parte das classes médias. Estas, a despeito dos êxitos econômicos e da publicidade desbragada do governo anterior, mantiveram certa reserva diante de Lula. Esta reserva pode diminuir com relação ao governo atual se ele, seja por que razão for, comportar-se de maneira distinta do governo anterior.

É cedo para avaliar a consistência de mudanças no estilo de governar da presidente Dilma. Estamos no início do mandato e os sinais de novos rumos dados até agora são insuficientes para avaliar o percurso futuro.

É preciso refazer caminhos

Antes de especificar estes argumentos, esclareço que a maior complexidade para as oposições se firmarem no quadro atual – comparando com o que ocorreu no regime autoritário, e mesmo com o petismo durante meu governo, pois o PT mantinha uma retórica semianticapitalista – não diminui a importância de fincar a oposição no terreno político e dos valores, para que não se perca no oportunismo nem perca eficácia e sentido, aumentando o desânimo que leva à inação.

É preciso, portanto, refazer caminhos, a começar pelo reconhecimento da derrota: uma oposição que perde três disputas presidenciais não pode se acomodar com a falta de autocrítica e insistir em escusas que jogam a responsabilidade pelos fracassos no terreno “do outro”. Não estou, portanto, utilizando o que disse acima para justificar certa perplexidade das oposições, mas para situar melhor o campo no qual se devem mover.

Se as forças governistas foram capazes de mudar camaleonicamente a ponto de reivindicarem o terem construído a estabilidade financeira e a abertura da economia, formando os “campeões nacionais” – as empresas que se globalizam – isso se deu porque as oposições minimizaram a capacidade de contorcionismo do PT, que começou com a Carta aos Brasileiros de junho de 1994 e se desnudou quando Lula foi simultaneamente ao Fórum Social de Porto Alegre e a Davos.

Era o sinal de “adeus às armas”: socialismo só para enganar trouxas, nacional–desenvolvimentismo só como “etapa”. Uma tendência, contudo, não mudou, a do hegemonismo, ainda assim, aceitando aliados de cabresto.

Segmentos numerosos das oposições de hoje, mesmo no PSDB, aceitaram a modernização representada pelo governo FHC com dor de consciência, pois sentiam bater no coração as mensagens atrasadas do esquerdismo petista ou de sua leniência com o empreguismo estatal.

Não reivindicaram com força, por isso mesmo, os feitos da modernização econômica e do fortalecimento das instituições, fato muito bem exemplificado pela displicência em defender os êxitos da privatização ou as políticas saneadoras, ou de recusar com vigor a mentira repetida de que houve compra de votos pelo governo para a aprovação da emenda da reeleição, ou de denunciar atrasos institucionais, como a perda de autonomia e importância das agências reguladoras.

Da mesma maneira, só para dar mais alguns exemplos, o Proer e o Proes, graças aos quais o sistema financeiro se tornou mais sólido, foram solenemente ignorados, quando não estigmatizados. Os efeitos positivos da quebra dos monopólios, o do petróleo mais que qualquer outro, levando a Petrobras a competir e a atuar como empresa global e não como repartição pública, não foram reivindicados como êxitos do PSDB.

O estupendo sucesso da Vale, da Embraer ou das teles e da Rede Ferroviária sucumbiu no murmúrio maledicente de “privatarias” que não existiram. A política de valorização do salário mínimo, que se iniciou no governo Itamar Franco e se firmou no do PSDB, virou glória do petismo.

As políticas compensatórias iniciadas no governo do PSDB – as bolsas – que o próprio Lula acusava de serem esmolas e quase naufragaram no natimorto Fome Zero – voltaram a brilhar na boca de Lula, pai dos pobres, diante do silêncio da oposição e deslumbramento do país e… do mundo!

Não escrevo isso como lamúria, nem com a vã pretensão de imaginar que é hora de reivindicar feitos do governo peessedebista. Inês é morta, o passado… passou. Nem seria justo dizer que não houve nas oposições quem mencionasse com coragem muito do que fizemos e criticasse o lulismo.

As vozes dos setores mais vigorosos da oposição se estiolaram, entretanto, nos muros do Congresso e este perdeu força política e capacidade de ressonância. Os partidos se transformaram em clubes congressuais, abandonando as ruas; muitos parlamentares trocaram o exercício do poder no Congresso por um prato de lentilhas: a cada nova negociação para assegurar a “governabilidade”, mais vantagens recebem os congressistas e menos força político-transformadora tem o Congresso.

Na medida em que a maioria dos partidos e dos parlamentares foi entrando no jogo de fazer emendas ao orçamento (para beneficiar suas regiões, interesses – legítimos ou não – de entidades e, por fim, sua reeleição), o Congresso foi perdendo relevância e poder.

Consequentemente, as vozes parlamentares, em especial as de oposição, que são as que mais precisam da instituição parlamentar para que seu brado seja escutado, perderam ressonância na sociedade.

Com a aceitação sem protesto do “modo lulista de governar” por meio de medidas provisórias, para que serve o Congresso senão para chancelar decisões do Executivo e receber benesses? Principalmente, quando muitos congressistas estão dispostos a fazer o papel de maioria obediente a troco da liberação pelo Executivo das verbas de suas emendas, sem esquecer que alguns oposicionistas embarcam na mesma canoa.

Ironicamente, uma importante modificação institucional, a descentralização da ação executiva federal, estabelecida na Constituição de 1988 e consubstanciada desde os governos Itamar Franco e FHC, diluiu sua efetividade técnico–administrativa em uma pletora de recursos orçamentários “carimbados”, isto é, de orientação político-clientelista definida, acarretando sujeição ao Poder Central, ou, melhor, a quem o simboliza pessoalmente e ao partido hegemônico.

Neste sentido, diminuiu o papel político dos governadores, bastião do oposicionismo em estados importantes, pois a relação entre prefeituras e governo federal saltou os governos estaduais e passou a se dar mais diretamente com a presidência da República, por meio de uma secretaria especial colada ao gabinete presidencial.

Como, por outra parte, existe – ou existiu até a pouco – certa folga fiscal e a sociedade passa por período de intensa mobilidade social movida pelo dinamismo da economia internacional e pelas políticas de expansão do mercado interno que geram emprego, o desfazimento institucional produzido pelo lulismo e a difusão de práticas clientelísticas e corruptoras foram sendo absorvidos, diante da indiferença da sociedade.

Na época do mensalão, houve um início de desvendamento do novo Sistema (com S maiúsculo, como se escrevia para descrever o modelo político criado pelos governos militares).

Então, ainda havia indignação diante das denúncias que a mídia fazia e os partidos ecoavam no Parlamento. Pouco a pouco, embora a mídia continue a fazer denúncias, a própria opinião pública, isto é, os setores da opinião nacional que recebem informações, como que se anestesiou. Os cidadãos cansaram de ouvir tanto horror perante os céus sem que nada mude. Diante deste quadro, o que podem fazer as oposições?

Definir o público a ser alcançado

Em primeiro lugar, não manter ilusões: é pouco o que os partidos podem fazer para que a voz de seus parlamentares alcance a sociedade.

É preciso que as oposições se deem conta de que existe um público distinto do que se prende ao jogo político tradicional e ao que é mais atingido pelos mecanismos governamentais de difusão televisiva e midiática em geral.

As oposições se baseiam em partidos não propriamente mobilizadores de massas. A definição de qual é o outro público a ser alcançado pelas oposições e como fazer para chegar até ele e ampliar a audiência crítica é fundamental.

Enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os “movimentos sociais” ou o “povão”, isto é, sobre as massas carentes e pouco informadas, falarão sozinhos. Isto porque o governo “aparelhou”, cooptou com benesses e recursos as principais centrais sindicais e os movimentos organizados da sociedade civil e dispõe de mecanismos de concessão de benesses às massas carentes mais eficazes do que a palavra dos oposicionistas, além da influência que exerce na mídia com as verbas publicitárias.

Sendo assim, dirão os céticos, as oposições estão perdidas, pois não atingem a maioria. Só que a realidade não é bem essa. Existe toda uma gama de classes médias, de novas classes possuidoras (empresários de novo tipo e mais jovens), de profissionais das atividades contemporâneas ligadas à ti (tecnologia da informação) e ao entretenimento, aos novos serviços espalhados pelo Brasil afora, às quais se soma o que vem sendo chamado sem muita precisão de “classe c” ou de nova classe média.

Digo imprecisamente porque a definição de classe social não se limita às categorias de renda (a elas se somam educação, redes sociais de conexão, prestígio social, etc.), mas não para negar a extensão e a importância do fenômeno. Pois bem, a imensa maioria destes grupos – sem excluir as camadas de trabalhadores urbanos já integrados ao mercado capitalista – está ausente do jogo político-partidário, mas não desconectada das redes de internet, Facebook, YouTube, Twitter, etc.

É a estes que as oposições devem dirigir suas mensagens prioritariamente, sobretudo no período entre as eleições, quando os partidos falam para si mesmo, no Congresso e nos governos. Se houver ousadia, os partidos de oposição podem organizar-se pelos meios eletrônicos, dando vida não a diretórios burocráticos, mas a debates verdadeiros sobre os temas de interesse dessas camadas.

Mas não é só isso: as oposições precisam voltar às salas universitárias, às inúmeras redes de palestras e que se propagam pelo país afora e não devem, obviamente, desacreditar do papel da mídia tradicional: com toda a modernização tecnológica, sem a sanção derivada da confiabilidade, que só a tradição da grande mídia assegura, tampouco as mensagens, mesmo que difundidas, se transformam em marcas reconhecidas.

Além da persistência e ampliação destas práticas, é preciso buscar novas formas de atuação para que a oposição esteja presente, ou pelo menos para que entenda e repercuta o que ocorre na sociedade. Há inúmeras organizações de bairro, um sem-número de grupos musicais e culturais nas periferias das grandes cidades, etc., organizações voluntárias de solidariedade e de protesto, redes de consumidores, ativistas do meio ambiente, e por aí vai, que atuam por conta própria.

Dado o anacronismo das instituições político-partidárias, seria talvez pedir muito aos partidos que mergulhem na vida cotidiana e tenham ligações orgânicas com grupos que expressam as dificuldades e anseios do homem comum. Mas que pelo menos ouçam suas vozes e atuem em consonância com elas.

Não deve existir uma separação radical entre o mundo da política e a vida cotidiana, nem muito menos entre valores e interesses práticos.

No mundo interconectado de hoje, vê-se, por exemplo, o que ocorre com as revoluções no meio islâmico, movimentos protestatórios irrompem sem uma ligação formal com a política tradicional. Talvez as discussões sobre os meandros do poder não interessem ao povo no dia-a-dia tanto quanto os efeitos devastadores das enchentes ou o sufoco de um trânsito que não anda nas grandes cidades. Mas, de repente, se dá um “curto-circuito” e o que parecia não ser “política” se politiza. Não foi o que ocorreu nas eleições de 1974 ou na campanha das “diretas já”?

Nestes momentos, o pragmatismo de quem luta para sobreviver no dia-a-dia lidando com questões “concretas” se empolga com crenças e valores. O discurso, noutros termos, não pode ser apenas o institucional, tem de ser o do cotidiano, mas não desligado de valores. Obviamente em nosso caso, o de uma democracia, não estou pensando em movimentos contra a ordem política global, mas em aspirações que a própria sociedade gera e que os partidos precisam estar preparados para que, se não os tiverem suscitado por sua desconexão, possam senti-los e encaminhá-los na direção política desejada.

Seria erro fatal imaginar, por exemplo, que o discurso “moralista” é coisa de elite à moda da antiga UDN. A corrupção continua a ter o repúdio não só das classes médias como de boa parte da população. Na última campanha eleitoral, o momento de maior crescimento da candidatura Serra e de aproximação aos resultados obtidos pela candidata governista foi quando veio à tona o “episódio Erenice”.

Mas é preciso ter coragem de dar o nome aos bois e vincular a “falha moral” a seus resultados práticos, negativos para a população. Mais ainda: é preciso persistir, repetir a crítica, ao estilo do “beba Coca Cola” dos publicitários. Não se trata de dar-nos por satisfeitos, à moda de demonstrar um teorema e escrever “cqd”, como queríamos demonstrar.

Seres humanos não atuam por motivos meramente racionais. Sem a teatralização que leve à emoção, a crítica – moralista ou outra qualquer– cai no vazio. Sem Roberto Jefferson não teria havido mensalão como fato político.

Qual é a mensagem?

Por certo, os oposicionistas para serem ouvidos precisam ter o que dizer. Não basta criar um público, uma audiência e um estilo, o conteúdo da mensagem é fundamental. Qual é a mensagem? O maior equívoco das oposições, especialmente do PSDB, foi o de haver posto à margem as mensagens de modernização, de aggiornamento do País, e de clara defesa de uma sociedade democrática comprometida com causas universais, como os direitos humanos e a luta contra a opressão, mesmo quando esta vem mascarada de progressismo, apoiada em políticas de distribuição de rendas e de identificação das massas com o Chefe.

Nas modernas sociedades democráticas, por outro lado, o Estado tanto mantém funções na regulação da economia como em sua indução, podendo chegar a exercer papel como investidor direto. Mas o que caracteriza o Estado em uma sociedade de massas madura é sua ação democratizadora.

Os governos devem tornar claros, transparentes, e o quanto possível imunes à corrupção, os mecanismos econômicos que cria para apoiar o desenvolvimento da economia. Um Estado moderno será julgado por sua eficiência para ampliar o acesso à educação, à saúde e à previdência social, bem como pela qualidade da segurança que oferece às pessoas.Cabe às oposições serem a vanguarda nas lutas por estes objetivos.

Defender o papel crescente do Estado nas sociedades democráticas, inclusive em áreas produtivas, não é contraditório com a defesa da economia de mercado. Pelo contrário, é preciso que a oposição diga alto e bom som que os mecanismos de mercado, a competição, as regras jurídicas e a transparência das decisões são fundamentais para o Brasil se modernizar, crescer economicamente e se desenvolver como sociedade democrática.

Uma sociedade democrática amadurecida estará sempre comprometida com a defesa dos direitos humanos, com a ecologia e com o combate à miséria e às doenças, no país e em toda a parte. E compreende que a ação isolada do Estado, sem a participação da sociedade, inclusive dos setores produtivos privados, é insuficiente para gerar o bem-estar da população e oferecer bases sólidas para um desenvolvimento econômico sustentado.

Ao invés de se aferrarem a esses valores e políticas que lhes eram próprios como ideologia e como prática, as oposições abriram espaço para que o lulopetismo ocupasse a cena da modernização econômica e social. Só que eles têm os pés de barro: a cada instante proclamam que as privatizações “do PSDB” foram contra a economia do País, embora comecem a fazer descaradamente concessões de serviços públicos nas estradas e nos aeroportos, como se não estivessem fazendo na prática o mea-culpa.

Cabe às oposições não apenas desmascarar o cinismo, mas, sobretudo, cobrar o atraso do País: onde está a infraestrutura que ficou bloqueada em seus avanços pelo temor de apelar à participação da iniciativa privada nos portos, nos aeroportos, na geração de energia e assim por diante?

Quão caro já estamos pagando pela ineficiência de agências reguladoras entregues a sindicalistas “antiprivatizantes” ou a partidos clientelistas, como se tornou o PC d B, que além de vender benesses no ministério dos Esportes, embota a capacidade controladora da ANP, que deveria evitar que o monopólio voltasse por vias transversas e prejudicasse o futuro do País.

Oposição precisa vender o peixe

Dirão novamente os céticos que nada disso interessa diretamente ao povo. Ora, depende de como a oposição venda o peixe. Se tomarmos como alvo, por exemplo, o atraso nas obras necessárias para a realização da Copa e especializarmos três ou quatro parlamentares ou técnicos para martelar no dia-a-dia, nos discursos e na internet, o quanto não se avança nestas áreas por causa do burocratismo, do clientelismo, da corrupção ou simplesmente da viseira ideológica que impede a competição construtiva entre os setores privados e destes com os monopólios, e se mostrarmos à população como ela está sendo diretamente prejudicada pelo estilo petista de política, criticamos este estilo de governar, suscitamos o interesse popular e ao mesmo tempo oferecemos alternativas.

Na vida política tudo depende da capacidade de politizar o apelo e de dirigi-lo a quem possa ouvi-lo. Se gritarmos por todos os meios disponíveis que a dívida interna de R$ 1,69 trilhão (mostrando com exemplos ao que isto corresponde) é assustadora, que estamos pagando R$ 50 bilhões por ano para manter reservas elevadas em dólares, que pagamos a dívida (pequena) ao FMI sobre a qual incidiam juros moderados, trocando-a por dívidas em reais com juros enormes, se mostrarmos o quanto custa a cada contribuinte cada vez que o Tesouro transfere ao BNDES dinheiro que o governo não tem e por isso toma emprestado ao mercado pagando juros de 12% ao ano, para serem emprestados pelo BNDES a juros de 6% aos grandes empresários nacionais e estrangeiros, temos discurso para certas camadas da população.

Este discurso deve desvendar, ao mesmo tempo, o porquê do governo assim proceder: está criando um bloco de poder capitalista-burocrático que sufoca as empresas médias e pequenas e concentra renda.

Este tipo de política mostra descaso pelos interesses dos assalariados, dos pequenos produtores e profissionais liberais de tipo antigo e novo, setores que, em conjunto, custeiam as benesses concedidas ao grande capital com impostos que lhe são extraídos pelo governo.

O lulopetismo não está fortalecendo o capitalismo em uma sociedade democrática, mas sim o capitalismo monopolista e burocrático que fortalece privilégios e corporativismos.

Com argumentos muito mais fracos o petismo acusou o governo do PSDB quando, em fase de indispensável ajuste econômico, aumentou a dívida interna (ou, melhor, reconheceu os “esqueletos” compostos por dívidas passadas) e usou recursos da privatização – todos contabilizados – para reduzir seu crescimento. A dívida pública consolidada do governo lulista foi muito maior do que a herdada por este do governo passado e, no entanto, a opinião pública não tomou conhecimento do fato.

As oposições não foram capazes de politizar a questão. E o que está acontecendo agora quando o governo discute substituir o fator previdenciário, recurso de que o governo do PSDB lançou mão para mitigar os efeitos da derrota sofrida para estabelecer uma idade mínima de aposentadoria? Propondo a troca do fator previdenciário pela definição de… uma idade mínima de aposentadoria.

Petistas camaleões

Se os governistas são camaleões (ou, melhor, os petistas, pois boa parte dos governistas nem isso são: votavam com o governo no passado e continuam a votar hoje, como votarão amanhã, em vez de saudá-los porque se aproximam da racionalidade ou de votarmos contra esta mesma racionalidade, negando nossas crenças de ontem, devemos manter a coerência e denunciar as falsidades ideológicas e o estilo de política de mistificação dos fatos, tantas vezes sustentado pelo petismo.

São inumeráveis os exemplos sobre como manter princípios e atuar como uma oposição coerente. Mesmo na questão dos impostos, quando o PSDB e o DEM junto com o PPS ajudaram a derrubar a CPMF, mostraram que, coerentes, dispensaram aquele imposto porque ele já não era mais necessário, como ficou demonstrado pelo contínuo aumento da receita depois de sua supressão.

É preciso continuar a fazer oposição à continuidade do aumento de impostos para custear a máquina público-partidária e o capitalismo burocrático dos novos dinossauros. É possível mostrar o quanto pesa no bolso do povo cada despesa feita para custear a máquina público-partidária e manter o capitalismo burocrático dos novos dinossauros. E para ser coerente, a oposição deve lutar desde já pela redução drástica do número de cargos em comissão, nomeados discricionariamente, bem como pelo estabelecimento de um número máximo de ministérios e secretarias especiais, para conter a fúria de apadrinhamento e de conchavos partidários à custa do povo.

Em suma: não há oposição sem “lado”. Mais do que ser de um partido, é preciso “tomar partido”.

É isso que a sociedade civil faz nas mais distintas matérias. O que o PSDB pensa sobre liberdade e pluralidade religiosa? Como manter a independência do Estado laico e, ao mesmo tempo, prestigiar e respeitar as religiões que formam redes de coesão social, essenciais para a vida em sociedade? O que pensa o partido sobre o combate às drogas? É preciso ser claro e sincero: todas as drogas causam danos, embora de alcance diferente. Adianta botar na cadeia os drogados?

Sinceridade comove a população

Há casos nos quais a regulação vale mais que a proibição: veja-se o tabaco e o álcool, ambos extremadamente daninhos. São não apenas regulados em sua venda e uso (por exemplo, é proibido fumar em locais fechados ou beber depois de uma festa e guiar automóveis) como estigmatizados por campanhas publicitárias, pela ação de governos e das famílias.

Não seria o caso de fazer a mesma coisa com a maconha, embora não com as demais drogas muito mais danosas, e concentrar o fogo policial no combate aos traficantes das drogas pesadas e de armas? Se disso ainda não estivermos convencidos, pelo menos não fujamos à discussão, que já corre solta na sociedade. Sejamos sinceros: é a sinceridade que comove a população e não a hipocrisia que pretende não ver o óbvio.

Se a regra é ser sincero, por que temer ir fundo e avaliar o que nós próprios fizemos no passado, acreditando estar certos, e que continua sendo feito, mas que requer uma revisão?

Tome-se o exemplo da reforma agrária e dos programas de incentivo à economia familiar.

Fomos nós do PSDB que recriamos o Ministério da Reforma Agrária e, pela primeira vez, criamos um mecanismo de financiamento da agricultura familiar, o Pronaf. Nenhum governo fez mais em matéria de acesso à terra do que o do PSDB quando a pasta da Reforma era dirigida por um membro do PPS.

Não terá chegado a hora de avaliar os resultados? O Pronaf não estará se transformando em mecanismo de perpétua renovação de dívidas, como os grandes agricultores faziam no passado com suas dívidas no Banco do Brasil? Qual é o balanço dos resultados da reforma agrária? E as acusações de “aparelhamento” da burocracia pelo PT e pelo MST são de fato verdadeiras?

Sem que a oposição afirme precipitadamente que tudo isso vai mal – o que pode não ser correto – não pode temer buscar a verdade dos fatos, avaliar, julgar e criticar para corrigir.

Existe matéria em abundância para manter os princípios e para ir fundo nas críticas sem temer a acusação injusta de que se está defendendo “a elite”. Mas política não é tese universitária. É preciso estabelecer uma agenda. Geralmente esta é dada pelo governo. Ainda assim, usemo-la para concentrar esforços e dar foco, repetição e persistência à ação oposicionista.

Tomemos um exemplo, o da reforma política, tema que o governo afirma estar disposto a discutir. Pois bem, o PSDB tem posição firmada na matéria: é favorável ao voto distrital (misto ou puro, ainda é questão indefinida). Se é assim, por que não recusar de plano a proposta da “lista fechada”, que reforça a burocracia partidária, não diminui o personalismo (ou alguém duvida que se pedirão votos para a lista “do Lula”?) e separa mais ainda o eleitor dos representantes?

Compromisso com o voto digital

Não é preciso afincar uma posição de intransigência: mantenhamos o compromisso com o voto distrital, façamos a pregação.

Se não dispusermos de forças para que nossa tese ganhe, aceitemos apenas os melhoramentos óbvios no sistema atual: cláusula de desempenho (ou de barreira), proibição de coligações nas eleições proporcionais e regras de fidelidade partidária, ainda que para algumas destas medidas seja necessário mudança constitucional.

Deixemos para outra oportunidade a discussão sobre financiamento público das campanhas, pois sem a distritalização o custo para o contribuinte será enorme e não se impedirá o financiamento em “caixa preta” nem o abuso do poder econômico. Mas denunciemos o quanto de antidemocrático existe no voto em listas fechadas.

Em suma: não será esta uma boa agenda para a oposição firmar identidade, contrapor-se à tendência petista de tudo burocratizar e, ao mesmo tempo, não se encerrar em um puro negativismo aceitando modificações sensatas?

Por fim, retomando o que disse acima sobre o “triunfo do capitalismo”. O governo do PT e o próprio partido embarcaram, sem dizer, na adoração do bezerro de ouro. Mas, marcados pelos cacoetes do passado, não perceberam que o novo na fase contemporânea do capitalismo não é apenas a acumulação e o crescimento da economia.

Os grandes temas que se estão desenhando são outros e têm a ver com o interesse coletivo: como expandir a economia sem destroçar o meio ambiente, como assegurar direitos aos destituídos deles, não só pela obreza, mas pelas injustiças (desigualdades de gênero, de raça, de acesso à cultura)? Persistem preocupações antigas: como preservar a Paz em um mundo no qual há quem disponha da bomba nuclear?

A luta pela desnuclearização tem a ver com o sentido de um capitalismo cuja forma “selvagem” a sociedade democrática não aceita mais.

Esta nova postura é óbvia no caso da ecologia, pois o natural egoísmo dos Estados, na formulação clássica, se choca com a tese primeira, a da perpetuação da vida humana. O terror atômico e o aquecimento global põem por terra visões fincadas no terreno do nacional-estatismo arcaico.

Há um nacionalismo de novo tipo, democrático, aberto aos desafios do mundo e integrado nele, mas alerta aos interesses nacionais e populares. Convém redefinir, portanto, a noção do interesse nacional, mantendo-o persistente e alerta no que é próprio aos interesses do País, mas compatibilizando-o com os interesses da humanidade.

Estas formulações podem parecer abstratas, embora se traduzam no dia-a-dia: no Brasil, ninguém discute sobre qual o melhor modo de nossa presença no mundo: será pelo velho caminho armamentista, nuclearizando-nos, ou nossas imensas vantagens comparativas em outras áreas, entre elas as do chamado soft power, podem primar?

Por exemplo, nossa “plasticidade cultural mestiça”, a aceitação das diferenças raciais – sem que se neguem e combatam as desigualdades e preconceitos ainda existentes – não são um ganho em um mundo multipolar e multicultural? E a disponibilidade de uma matriz energética limpa, sem exageros de muitas usinas atômicas (sempre perigosas), bem como os avanços na tecnologia do etanol, não nos dão vantagens?

Por que não discutir, a partir daí, o ritmo em que exploraremos o pré-sal e as obscuras razões para a “estatização do risco e divisão do lucro” entre a Petrobras e as multinacionais por meio do sistema de partilha? São questões que não exploramos devidamente, ou cujas decisões estão longe de ser claramente compatíveis com o interesse nacional de longo prazo.

Falta de estratégia

Na verdade, falta-nos estratégia. Estratégia não é plano de ação: é o peso relativo que se dá às questões desafiadoras do futuro somado à definição de como as abordaremos. Que faremos neste novo mundo para competir com a China, com os Estados Unidos ou com quem mais seja? Como jogar com nossos recursos naturais (petróleo à frente) como fator de sucesso e poder sem sermos amanhã surpreendidos pelo predomínio de outras fontes de energia? E, acima de tudo, como transformar em políticas o anseio por uma “revolução educacional” que dê lugar à criatividade, à invenção e aos avanços das tecnologias do futuro?

A China, ao que parece, aprendeu as lições da última crise e está apostando na inovação, preparando-se para substituir as fontes tradicionais de energia, sobretudo o petróleo, de que não dispõe em quantidade suficiente para seu consumo crescente. E os próprios Estados Unidos, embora atônitos com os erros acumulados desde a gestão Bush, parecem capazes de continuar inovando, se conseguirem sair depressa da crise financeira que os engolfou.

De tudo isso o PT e seus governos falam, mas em ziguezague. As amarras a uma visão oposta, vinda de seu passado recente, os inibem para avançar mais. Não é hora das oposições serem mais afirmativas? E se por acaso, como insinuei no início deste artigo, houver divisões no próprio campo do petismo por causa da visão canhestra de muitos setores que apoiam o governo e de suas necessidades práticas o levarem a direções menos dogmáticas?

Neste caso, embora seja cedo para especular, terá a oposição inteireza e capacidade política para aproveitar as circunstâncias e acelerar a desagregação do antigo e apostar no novo, no fortalecimento de uma sociedade mais madura e democrática?

Engana-se quem pensar que basta manter a economia crescendo e oferecer ao povo a imagem de uma sociedade com mobilidade social.

Esta, ao ocorrer, aumenta as demandas tanto em termos práticos, de salários e condições de vida, como culturais. Em um mundo interconectado pelos modernos meios de comunicação o cidadão comum deseja saber mais, participar mais e avaliar por si se de fato as diferenças econômicas e sociais estão diminuindo.

Sem, entretanto, uma oposição que se oponha ao triunfalismo lulista, que coroa a alienação capitalista, desmistificando tudo o que seja mera justificativa publicitária do poder e chamando a atenção para os valores fundamentais da vida em uma sociedade democrática, só ocorrerão mudanças nas piores condições: quando a fagulha de alguma insatisfação produzir um curto-circuito. Mesmo este adiantará pouco se não houver à disposição uma alternativa viável de poder, um caminho preparado por lideranças nas quais a população confie.

No mundo contemporâneo este caminho não se constrói apenas por partidos políticos, nem se limita ao jogo institucional. Ele brota também da sociedade, de seus blogs, twitters, redes sociais, da mídia, das organizações da sociedade civil, enfim, é um processo coletivo. Não existe apenas uma oposição, a da arena institucional; existem vários focos de oposição, nas várias dimensões da sociedade.

Reitero: se as oposições institucionais não forem capazes de se ligar mais diretamente aos movimentos da vida, que pelo menos os ouçam e não tenham a pretensão de imaginar que pelo jogo congressual isolado alcançarão resultados significativos.

Os vários focos de insatisfação social, por sua vez, também podem se perder em demandas específicas a serem atendidas fragmentariamente pelo governo se não encontrarem canais institucionais que expressem sua vontade maior de transformação.

As oposições políticas, por fim, se nada ou pouco tiverem a ver com as múltiplas demandas do cotidiano, como acumularão forças para ganhar a sociedade?

Fonte: O artigo de FHC será publicado na revista Interesse Nacional nesta quinta e foi antecipado pelo blog do Noblat.

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, foi presidente da República (1995-2003) e é presidente de honra do PSDB
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quarta-feira, 13 de abril de 2011

Posted by Milagros Nathali Silva Ramirez

La Fábula del Puerco-Espin….La vida,la psiquis y el entorno!
junio 20, 2010
La fábula del Puerco-espín:
Durante la era glaciar, muchos animales morían por causa del frío.
Los puerco-espines, percibiendo la situación, resolvieron juntarse en grupos, así se abrigaban y se protegían mutuamente, más las espinas de cada uno herían a los compañeros más próximos, justamente los que ofrecían más calor.
Por eso decidieron alejarse unos de otros y comenzaron de nuevo a morir congelados.
Entonces precisaron hacer una elección: o desaparecían de la Tierra o aceptaban las espinas de los compañeros.
Con sabiduría, decidieron volver a estar juntos.
Aprendieron así a convivir con las pequeñas heridas que la relación con un semejante muy próximo puede causar, ya que lo más importante era el calor del otro.
Y así sobrevivieron….

Moraleja de la historia:
La mejor relación no es aquella que une personas perfectas, es aquella donde cada uno aprende a convivir con los defectos del otro, y admirar sus cualidades.

Una historia muy bella, cierto? pero, que tanto refleja nuestra realidad? será que los seres humanos de verdad elegimos mantenernos unidos, pese a las heridas que nos infringimos?, comprendemos y aceptamos las debilidades de nuestros semejantes?, entendemos el “bien común y le damos preeminencia sobre los intereses personales?….

Cuando leí esta corta historia, decidí leerla en clases; si algo resulta díficil es lograr la cohesión del grupo entre adultos..los niños en su estado natural de “sanidad” no temen interrelacionarse entre ellos, no conocen de rivalidades, de competencias mal sanas, no temen a perder lo que creen suyo, porque viven bajo el convencimiento de la “pertenencia por derecho de consciencia”, es a esa “sanidad” a la que me refiero, a la limpieza de espíritu y de consciencia. Los Adultos a medida que crecemos, nos vamos adosando capas densas de prejuicios, paradigmas, falsas creencias, distorciones de la realidad hasta rodearnos de una infranqueable coraza que nos impide crecer, evolucionar, recordar quienes somos en realidad. Un blindaje, extraño definitivamente…de mucha dureza para algunas circunstancias y poco protectora en cuanto de heridas se trata. Realmente resultó una experiencia muy nutritiva compartir con el grupo la historia de los puercos-espines, llegando a la conclusión después de una hora, que no fuimos concebidos para vivir en aislamiento, sino para ser socialmente adheridos en muchos aspectos.

La historia, me permitió explicar el aspecto “BIOPSICOSOCIAL” del hombre tomando como ejemplo el argumento del cuento…el hombre, lo mismo que el puerco-espin, representa en su individualidad un ser único e irrepetible, pese a pertenecer a una “especie”, cada ser vivo lo es, evidentemente todos tenemos caracteristicas propias del grupo al cual pertenecemos, eso nos determina y nos cuenta entre los elementos que connotan y denotan “vida” o BIO, como seres vivientes; condición ésta que nos habka de las funciones netamente fisiológicas, pero, que no nos excluye del aspecto PSICO y, que por ende, como valor agregado nos permite desarrollar “una actividad mental” y con ella exteriorizar conductas, manifestar sentimientos, emociones,etc. surgiendo como una reacción a la acción psicológica la activación del aspecto SOCIAL del hombre;permitiéndole interactuar con el entorno que le rodea, impregnándose de la influencia positiva o negativa que de éste emane.

Estos tres aspectos se distinguen claramente en los protagonistas de la historia, de una manera fabulada nos induce al aprendizaje biopsicosocial. La convivencia o el modus vivendi, es para nosotros los seres humanos una condición para interrelacionarnos con el resto del mundo, es a través de la interacción social y mediante la comunicación que vamos entrelazando nexos o conexiones afectivas, a medida que nos proponemos alcanzar ese bienestar personal o social que llamamos “felicidad”.

LLegar al entendimiento que cohabitar con otros, representa un acto de “negociación” , es imprescindible para mantener la armonía y la paz social; ciertamente hay aspectos de carácter no disponible, no susceptible de negociar, porque pertenecen al ámbito muy personal e individual de cada uno, así como la honorabilidad, la integridad moral, los valores éticos, etc., son elementos de naturaleza subjetiva cuyos manejos quedan sujetos a los patrones de aceptación ó reconocimiento social del medio al cual pertenecemos. En la medida que cada puerco espin se hizo consciente que estaba siendo herido por otro, pero, que pese a ello los beneficios de mantenerse juntos eran mayor a sus lesiones, en un acto de amor cada uno de ellos optó por el bien de todos, haciendo a un lado sus propias percepciones, vivir o morir todos ó salvarse en la mayoría, así se mantuvieron y lograron generar una conducta manifiestamente social de supervivencia….

Cuando algo nos hiera, nos duela, nos cause daño….recordemos la fábula del puerco-espin; si logramos ver en esa situación adversa, un motivo para reconocer el valor positivo de todo cuanto nos ocurre, ir más allá de las debilidades de otros y poder mirar sus fortalezas, es innegable que logramos aprender el significado de ser entes biopsicosociales y la importancia de serlo….así sabremos que estamos en el camino correcto para alcanzar nuestra felicidad y contribuir a la felicidad de otros.

Hasta la próxima, el amor nunca muere. Con Dios estamos.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

leia,é importante.

Voto facultativo ou obrigatório?
seg, 11/04/11 por milton.jung | categoria Antonio Augusto Mayer dos Santos | tags eleição, eleitor, facultativo, obrigatório, política, voto



Por Antonio Augusto Mayer dos Santos

A natureza de ser facultativo ou obrigatório fomenta debates inconciliáveis a respeito do exercício do voto pelo cidadão. No âmbito da Reforma Política recentemente retomada pelo Congresso Nacional, esta é a única questão que não se refere diretamente às instituições ou ao seu funcionamento, mas apenas ao sujeito, no caso, o eleitor.

Os defensores da facultatividade referem-na como uma demonstração de evolução política ao permitir que o eleitor manifeste o seu desinteresse pelas eleições. Acrescentam que a obrigatoriedade do exercício de um direito implica numa contradição constitucional incompatível à democracia. Apregoam que a exigência do voto descaracterizaria sua gênese primitiva consolidada na manifestação espontânea da vontade do eleitor. Sublinham que a adoção da facultatividade é uma questão que assola mais os políticos que os cidadãos porquanto segundo apontam as pesquisas, a população brasileira não só apóia o voto facultativo como repudia o obrigatório, o que poderia determinar o encerramento de carreiras políticas amparadas no fisiologismo. Invocando estudos de especialistas, ponderam que o contingente de eleitores desinteressados ou sem motivação uma vez dispensado do dever de votar, permitiria resultados mais qualificados (“Voto ruim, político ruim”).

Canadá, Colômbia, Espanha, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Guiana, Holanda, Honduras, Japão, Nicarágua, Portugal e Senegal são alguns países onde o voto e o alistamento eleitoral são facultativos.

Os que se assumem contrários à adoção do voto facultativo argumentam que o obrigatório se apresenta essencial à vitalidade do Estado de Direito pois a cidadania impõe diversas obrigações (serviço militar, pagar impostos, etc), dentre as quais, votar periodicamente para a escolha de representantes. Acrescentam que o voto é uma expressão tipicamente republicana cuja natureza determina ao eleitor a irrenunciável condição de participante ativo do processo de escolha dos representantes populares (“Todo poder emana do povo”). Invocam pesquisas de preferência cujos resultados mostram que em todos os países em que o voto não é obrigatório, os votantes, em sua maioria, são os mais ricos e escolarizados, porque têm mais tempo para se ocupar da vida pública, enquanto que os pobres, ao não participarem ativamente das escolhas Legislativas e Executivas, tornam-se ainda mais excluídos, o que determina um círculo vicioso.

O constitucionalismo brasileiro é adepto tradicional do voto e alistamento obrigatórios, da mesma forma que Argentina, Austrália, Bélgica, Bolívia, Chile, Costa Rica, Equador, Grécia, Guatemala, Itália, México, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela, para citar alguns outros países.

O voto facultativo é realmente mais simpático porque projeta a liberdade de fazer ou não fazer alguma coisa (votar). Contudo, um elemento raramente citado nas análises deste tema e que não pode ser desprezado diz quanto à corrupção eleitoral que assola os pleitos do país. Por conta dos elevados índices de mandatos cassados pela Justiça Eleitoral num curto tempo, há um indicativo seguro de que o Brasil não dispõe das mínimas condições para tornar o voto facultativo, ao menos neste momento.

O sistema vigente, ainda que seja dotado de regras para o combate e repressão dos ilícitos eleitorais, é incompatível com esta modalidade de exercício de cidadania vez que os índices de mercancia eleitoral são extremamente significativos, tal prática se encontra disseminada em todos os Estados do país e em franca ascensão.

Antônio Augusto Mayer dos Santos é advogado especialista em direito eleitoral, professor e autor do livro “Reforma Política – inércia e controvérsias” (Editora Age). Às segundas, escreve no Blog do Mílton Jung.